CHEGAR - A EXPERIÊNCIA E O TEMPO DA EXPERIÊNCIA






A chegada aqui foi silenciosa... era alta madrugada...

Fui muito bem acolhida, numa terra muito bonita e forte... Depois de 4h de sono eu já estava de pé, pronta para fazer as aulas...

São aulas diferentes, pela manhã Acogny Technique, e a dança Gbe Gbe da Costa do Marfim, e á tarde aulas de Criação em Dança Negra Contemporânea e compartilhamentos de Danças Tradicionais dos diferentes países de onde vieram as pessoas que estão aqui nesse momento... A jornada é diária, inicia as 9h da manhã e termina as 20h...

As aulas entre si são muito diferentes, mas tem em comum uma pedagogia que privilegia a alegria, o prazer em fazer e o tempo para aprender...

A noção de resistência é construída fisicamente, uma vez que as aulas são muito intensas e exigem do corpo muito folego, muita força vital, no entanto, é a resistência através da alegria e do prazer em ser... A construção dessa resistência e coletiva, e através de “gritos de guerra” e divertidos lemas de trabalho, ganhamos força para resistir juntos... É um processo bastante complexo o de transformar cansaço em energia, mas essa transmutação acontece e uma experiência muito forte e riquíssima o processo de aprender a distribuir a energia no corpo para transmutação da fadiga.

A vivência das danças tradicionais afro-brasileiras e africanas são atividades físicas de alta intensidade e fisiologicamente possuem a capacidade de alterar significativamente a noção corporal do sujeito que a prática. Pois, nos exercícios de alta intensidade produzimos cerebralmente grandes quantidades de endorfina, o hormônio opióide responsável pelo controle da dor e pela sensação de bem estar do organismo, no seu processo de liberação está envolvida a promoção de um efeito analgésico de moléstias e também a melhora de aspectos emocionais. Essa informação nos faz entender o complexo processo de resistência presente nas práticas corporais de origem afro diaspóricas, bem como sua função histórica de manutenção da vida.

Por vezes se torna difícil para nós estudantes de modos ocidentais, construídos com as ideias de “ordem” e “seriedade”, acessar o prazer e a alegria do aprendizado, demoramos a sair da forma e finalmente brincar com o movimento no corpo...

Aqui o tempo se estende porque administrar a energia tanto no movimento intenso, quanto na intensa vida que há aqui, demanda tempo... É um tempo estendido, cheio e forte, que por vezes me dá muita dificuldade de escrever, dado o excesso de informação, pois para quem VIVE e pensa negritude, estar aqui é uma experiência muito forte, complexa e difícil de sintetizar … Aos poucos vou conseguindo!!!!

Para quem acha importante e deseja apoiar esse projeto, continuamos em campanha, acesse: http://www.kickante.com.br/campanhas/intercambio-cultural-brasil-senegal-danca-negra-contemporanea

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