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Mostrando postagens de 2015

CORPO NEGRO NA ESCOLA - A DANÇA COMO FERRAMENTA PARA UMA "REFORMA IDENTITÁRIA"

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“Saber-ME negra é viver a experiência de ter sido massacrado em MINHA identidade, confundida em MINHAS perspectivas, submetida a exigências, compelida a expectativas alienadas. Mas também é sobretudo a experiência de comprometer-ME a resgatar MINHA história e recriar-ME em MINHAS potencialidades” (Tornar-se negro, de Neuza Santos Souza Link para download ) Ring around the rosie - Ernie Barnes Link para conhecer! Inicio esse texto em primeira pessoa e também coloquei a escrita de Neuza Santos Souza em primeira pessoa porque acredito que só pessoas conscientes de sua identidade podem constituir um coletivo, e no momento em que vivemos, urge que as identidades sejam fortalecidas e se tornem conscientes, pois só assim poderemos estabelecer noções de coletividade na nossa configuração social, visando diminuir as desigualdades. Sou mulher, negra, artista-educadora, artista cênica e ativista cultural, me defino como artista cênica porque por trabalhar com cultu

PÉ NA TERRA, VISTA NO MAR... O PROCESSO DE RE-CONSTRUIR-SE ATRAVÉS DA EXPERIÊNCIA...

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            Estou ainda num processo de digerir minha experiência, eu tinha me comprometido (comigo mesma) a postar um texto por dia, mas nesse processo percebi que não sou linha de produção e que inclusive o respeito pela experiência se dá no momento em que a gente se permite aprofundar as sensações e extrair um pouco mais do que as primeiras impressões... Participar dessa vivência na École de Sables foi não só uma experiência profissional muito importante para mim, mas também uma vivência pessoal de cura muito importante e determinante para o resto da minha existência...     Como já relatei em um texto anterior, a École de Sables fica ao lado do mar, de alguns pontos da escola, inclusive, podemos ver o mar... Já no primeiro dia que cheguei procurei uma brechinha de tempo na hora do intervalo e fui ver o mar, quando me vi em frente aquela imensidão chorei!     Um choro muito sentido, que parecia estar preso a anos, séculos talvez... De me lembrar ainda choro... Mas naquela ocasi

CONVERSA COM AÏDA COLMENERO DIAZ: ALEGRIA, SENSIBILIDADE E CONSTRUÇÃO DA INDIVIDUALIDADE ATRAVÉS DO COLETIVO, PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS DE BASE DA TÉCNICA ACOGNY

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Em uma tarde quente e pulsante Aïda fala dos valores essenciais presentes na Técnica Acogny... Compartilho com vocês um pouco da intensidade, sensibilidade e profundidade, presentes no processo pedagógico que vivi na École de Sables!     Com um intenso processo de formação iniciado na infância com os estudos informais em diferentes áreas da arte, Aïda Colmenero Diaz se tornou uma artista de múltiplas possibilidades, é comediante, criadora intérprete em dança, produtora, professora e cineasta. Ela se situa na ponte aérea Africa/Espanha desde 2009, e desenvolve seu projeto educativo Programa de Formação Danza Afrique em diferentes países do continente africano: Marrocos, Senegal, Nigéria, Gana, Cabo Verde, Gana, Tanzânia, Guiné Conacry, Cabo Verde, Madagascar e Gabão. Aïda começou sua carreira como atriz na Drama School Cristina Rota em Madrid, depois se formou em dança contemporânea pelo Le Real Conservatório Profesional de la Danza Mariemma também em Madrid

BERTRAND SAKY TCHÉBÉ – “NO STRESS, HAPPYNESS, PEACE AND LOVE”: OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA DIDÁTICA DO CORAÇÃO E A DANÇA GBE-GBE

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 Saky como chamamos aqui é um artista transdisciplinar, canta, dança, toca percussão, compõe canções, entre outras habilidades.  Ele dançou com o Balé Nacional da Costa do Marfim desde 1993, também foi membro da Cia Afrika Bikonda, dirigida pelo mestre camaronês Jean-Jacques Yén dito Nilomkop Dikoaà em 1996. Foi coreógrafo da Cia Étincelles em 1997 , e após se tornou membro da companhia “ ler Temps” de Andrea Ouamba (premiado nos Encontros Coroegráficos de Paris) em 2003 e 2004. Saky aprofundou seus conhecimentos sobre as Danças contemporâneas e tradicionais  africanas e ocidentais na Ècole de Sables em Toubab Dialaw. E desde 2004 ele é membro da Cia. Jant-Bi de Germaine Acogny. Em 2011 se formou professor de danças pelo CND (Centro Nacional de Danças de Paris), e desde então vive e trabalha em Dakar ministrando aulas na Ècole de Sables, dançando na Cia Jant-Bi e dirigindo sua própria Cia. Syncrho. Tem uma didática que se baseia em 4 princípios  “No Stress, Happyness, Peace and L

ENGAJAMENTO, ÉTICA E A OBJETIFICAÇÃO DA AFRICANIDADE

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Para Luciano Lubanzadyo e Carla Lopes “Enquanto vocês continuarem me diferenciando pela minha cor, eu vou continuar afirmando a minha diferença.” (Patrick Acogny) O lugar onde estou (Toubab Dialaw) é região praieira, estou a 5 minutos do mar em  caminhada leve. Vou caminhar na praia quase todos os dias pela manhã, e todos os dias as bordas do mar estão infestadas de lixos que foram jogados no mar, peixinhos mortos e etc... A convivência com o mar e as conversas com as pessoas me fizeram chegar à seguinte reflexão: “o mar não fica com nada que não seja dele, nem com o que já não serve mais. O mar se limpa todas as manhãs de tudo o que está morto e de tudo o que contamina.” Tivemos uma aula de Criação em Dança Negra Contemporânea com Patrick Acogny que me fez refletir muito sobre várias questões, em realidade foram provocações mesmo. Ele nos deu 3 textos como ponto de partida para criação: o surgimento dos concursos de Mis e Mister e sua influência na det

CHEGAR - A EXPERIÊNCIA E O TEMPO DA EXPERIÊNCIA

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A chegada aqui foi silenciosa... era alta madrugada... Fui muito bem acolhida, numa terra muito bonita e forte... Depois de 4h de sono eu já estava de pé, pronta para fazer as aulas... São aulas diferentes, pela manhã Acogny Technique, e a dança Gbe Gbe da Costa do Marfim, e á tarde aulas de Criação em Dança Negra Contemporânea e compartilhamentos de Danças Tradicionais dos diferentes países de onde vieram as pessoas que estão aqui nesse momento... A jornada é diária, inicia as 9h da manhã e termina as 20h... As aulas entre si são muito diferentes, mas tem em comum uma pedagogia que privilegia a alegria, o prazer em fazer e o tempo para aprender... A noção de resistência é construída fisicamente, uma vez que as aulas são muito intensas e exigem do corpo muito folego, muita força vital, no entanto, é a resistência através da alegria e do prazer em ser... A construção dessa resistência e coletiva, e através de “gritos de guerra” e divertidos lemas de trabalho, g

AGRADECER E ABRAÇAR

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Preciso mais uma vez expressar minha gratidão à todas as pessoas que contribuíram para que embarcaram nessa viagem comigo e se empenharam em estabelecer esta rede. Gratidão imensa! No entanto, coloco aqui a necessidade de abraçarmos com mais força luta por políticas públicas para pesquisar e realizar trabalhos que evidenciem a cultura negra no Brasil. Temos a lei 10.639/03 que não está sendo aplicada como deveria exatamente pela “falta” de pesquisadores na área, apenas no Maranhão em 2015 se formou a primeira turma de um curso universitário voltado para o estudo das relações étnico raciais. Há cursos aqui e ali, mas o programa de pedagogia da maioria das universidades do Brasil não incluem nem um curso de extensão sobre a lei 10.639/03 e estratégias para sua aplicação. O que acontece? Não há falta de interesse por parte dos pesquisadores, simplesmente lhes falta meios de dar continuidade às suas pesquisas. Do poder público tentei apoio dos seguintes órgãos se

ESCOLA DE AREIAS (ÉCOLE DES SABLES)

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A Escola de areia – Centro Internacional de Danças Tradicionais e Contemporâneas da África, é uma verdadeira plataforma de encontros e intercâmbios, com funcionamento regular desde 1998, realiza residências de formações profissionais reúne bailarinos e coreógrafos da África, da diáspora e do mundo inteiro. A cada dois anos, as residências internacionais convidam bailarinos dos 5 continentes a vir explorar a essência e o universo das danças tradicionais e contemporâneas da África, e também da diáspora, visando intercambiar, dialogar, praticar e pensar com mestres da dança africana, reconhecidos pela qualidade excepcional do seu trabalho artístico e pedagógico. RESIDÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE DANÇAS DA ÁFRICA E DA DIÁSPORA: DANÇAS NEGRAS – ENTRE ENGAJAMENTO E RESISTÊNCIA As danças negras são todas as práticas de danças e coreografias que se inspiram seja nas danças locais e patrimoniais originárias diretamente da África, seja nas danças derivadas de prátic