Postagens

ARTE AFRICANA E AFRO AMERICANA: CONVERGÊNCIAS ENTRE ESTÉTICA, EDUCAÇÃO E SAÚDE.

Imagem
Tambor de Crioula Esta reflexão tem me vindo de forma constante, dadas as disciplinas pelas quais transito, as áreas nas quais atuo e os materiais de estudos com os quais tenho tido contato. Creio que estamos vivendo um momento de superação de uma forma estagnante de lidar com o saber, e a pequeninos passos o movimento incessante do mundo volta a ganhar lugar dentro das esferas de produção de conhecimento, já estamos conseguindo ver em textos acadêmicos frases como “inacabamento do pensamento”, “lógica do terceiro incluído”, “descolonização do pensamento” – o que significa perceber o conhecimento de povos não europeus como pertinentes e válidos no mundo contemporâneo – entre outras. Sendo assim, me sinto à vontade para captar as ideias que perambulam pelo mundo, num espaço um pouco além dos ditames medianos impostos pelas categorias de conhecimento ainda tão celebradas nas universidades. Uma outra ressalva que preciso fazer antes de tecer as ideias, é a de que a arte q

IGBÀDÚ – O CÉU E A TERRA, UM ESPETÁCULO NECESSÁRIO PARA A LISBOA DO SÉCULO XXI

Imagem
Texto de Rose Mara Kielela Há algum tempo podemos ver em Lisboa um crescente interesse pela “cultura afro”, aulas de dança, de percussão, tecidos africanos, turbantes, etc, transitam pelas ruas lisboetas cotidianamente. Porém, muito desse interesse se dá no campo da necessidade contemporânea da branquitude de re-inventar o “negro tradicional” para encarcerá-lo novamente em uma identidade estanque no tempo, mais uma vez ditada e limitada pelo olhar eurocêntrico. Como nenhum movimento acontece sem que haja um contraponto, uma resistência, também podemos ver em Lisboa, uma efervescência de grupos, debates, eventos, artistas, que colocam em cheque as tensões raciais, e que mais do que tudo, se preocupam em enunciar um olhar afirmativo sobre a negritude e a africanidade, e é justamente nessa linha que a recém-nascida Cia. de Dança Afro Contemporânea Agadá atua. Fundada pelos 3 bailarinos negrxs Jorge Ciprianno, Lucia Afonso e David Amado, a companhia busca trazer um o

ARTE DECOLONIAL – COMPREENDENDO A AESTHESIS DO SUL DO MUNDO

Imagem
Texto de Rose Mara Kielela Um assunto muito falado no mundo artístico atualmente é a “arte decolonial”, seguida por assuntos como “desobediência epistêmica”, “descolonização dos museus”, “descolonização do imaginário”, entre outros. No entanto, dada a proliferação dos termos pode ser interessante compreendermos um pouco do processo histórico da opção decolonial, bem como suas implicações no campo da estética e produção artística. A opção decolonial surgiu no terceiro mundo, justamente no momento de queda da ideia de divisão desses três mundos, suas bases históricas fundam-se na Conferência de Bandung 1955, onde 29 países de Ásia e África se reuniram para encontrar alicerces e visões de um futuro comum que não fosse nem comunista, nem capitalista, tratava-se de se desprender das principais narrativas ocidentais. Em seguida ocorreu a Conferência dos Países Não Alinhados, em Belgrado, 1961, na qual somaram forças com asiáticos e africanos, muitos países latino americanos. Assim,

Parte 2 - O BLACK ARTS MOVEMENT: SIGNIFICADO E POTENCIAL

Imagem
Esta é uma tradução livre do ensaio "The Black Arts Movement: Its meaning and potencial", escrito pelo poeta, dramaturgo e ativista Amiri Baraka (1934-2014) em 1994, apresentado no Simpósio "Visualizando a Negritude (Blackness)", do Centro de Pesquisa e Estudos Africanos da Universidade de Cornell em 13 de outubro de 2000. Publicado pelo  Nka: Journal of Contemporary African Art, 29, de 2011, pp.  22-31, em publicação da Universidade de Duke. Disponível em: http://muse.jhu.edu/article/480693 TEXTO DE: Amiri Baraka TRADUÇÃO: Rose Mara Kielela CONTINUAÇÃO: (para uma melhor compreensão do ensaio todo recomenda-se ler a primeira parte na publicação  Parte1- O Black Arts Movement: significado e potencial. ) Mas qualquer que fosse a nossa visão e teoria, poderiam ser apenas especulações, a menos que pudéssemos torná-las reais através da "prova" prática. Na melhor das hipóteses, éramos uma frente unida e frouxa, juntos firmemente

Parte 1 - O BLACK ARTS MOVEMENT: SIGNIFICADO E POTENCIAL

Imagem
Esta é uma tradução livre do ensaio "The Black Arts Movement: Its meaning and potencial", escrito pelo poeta, dramaturgo e ativista Amiri Baraka (1934-2014) em 1994, apresentado no Simpósio "Visualizando a Negritude (Blackness)", do Centro de Pesquisa e Estudos Africanos da Universidade de Cornell em 13 de outubro de 2000. Publicado pelo  Nka: Journal of Contemporary African Art, 29, de 2011, pp.  22-31, em publicação da Universidade de Duke. Disponível em: http://muse.jhu.edu/article/480693 TEXTO DE: Amiri Baraka TRADUÇÃO: Rose Mara Kielela No final dos anos 1950, o movimento dos direitos civis dos EUA alcançou uma nova força com a vitória do boicote aos ônibus em Montgomery, o surgimento de Martin Luther King Jr., e a formação Conferência da Liderança Cristã do Sul. A revolução cubana trouxe para essa época um clímax estrondoso com mais uma vitória popular democrática. Em 1960 o movimento estudantil negro tinha se formado fora do espaço Greensboro